Bernardo Almeida

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Se teu corpo estremecer, bem-vinda seja à minha morte
A fossa fúnebre dos que te repelem, no canal,
Faz companhia àqueles que fingiram te amar
Sentados quando precisaste, e, de pé, para agraciar a tua desgraça
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Uma palavra pode ser proferida
E esquecida com o tempo
Outra pode ser aquecida e sentida
Além da eternidade
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Declina e pára
Mas segue a todos nós
Amigos nas ruas
De intentos freqüentes
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Ir tão cedo
E ainda logo
Ressurgir
Na lembrança agridoce
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O meu pranto
Agulha
Foi teu manto
Ou guia
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A avenida é paulista
Mas os pedestres
São de todos os lugares
Cruzam-se, debatem-se e ignoram-se
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Ao deixar-me, ainda em chamas
A tua presença não me abandona
E as palavras que proferes, agora saem de mim
Derivam todas da mesma harmoniosa fonte
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Vitimado, constrangido, monitorado
Humilhado, oprimido, controlado
Vigiado, atacado, manipulado
Seduzido, induzido, conduzido
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O amor não fez sentido
Nesse mundo mesquinho e sem graça
Talvez porque seja ele a presa e não o predador
Não vale um latão
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Alguns dos meus amigos venderam
Palmas ao diabo, e tocavam-lhe a face
Alternando carinho e desprezo
Vertendo lágrimas de cor anil
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À mesa, refeições e olhares
Cada um com o seu
E cada seu com o meu
Não havia privacidade
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Passei as últimas três noites
Vagando em ambientes estranhos
E conversando com pessoas impossíveis
As quais sei que jamais reencontrá-las-ei
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No campo de batalha
As mentiras possuem verdades de ferro
E as camisas de força estão atadas aos libertários
Helicópteros que sobrevoam em intensidade
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O que tenta dizer-me esse olhar
Profundamente misterioso
Que se esconde por detrás
Dessa placa de gelo e vidro
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Escondo-me abaixo do inferno
E acima do paraíso
Para que não me incomodem
Nem bons, nem maus
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Sou o pó da raiz triturada pela sede,
Saturada pelo sol e nutrida pelo esterco
Falo grave neste chão árido e severo
Ao qual lanço o meu olhar
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Os dentes da moça ansiosamente rangiam
Como as desarrumadas camas que abrigam lúbricos amantes
E acobertam as paixões recônditas dos indecisos furacões
Que sussurram em tons pastéis e revelam sem reverências
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A vida não é o contrário da morte
Mas sim o seu meio
A morte não é o contrário da vida
Mas sim o seu cume
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