Nem todas as coisas marcam para nós
o tempo com tenacidade, nos seus halos.
Muitas ocultam ou não nos devolvem
o pensamento com que as havíamos querido.
Ó coisa imaginada, reflexo na água,
ó tanque que conténs a história do tempo,
hora a hora nas quatro estações.
Tens o Inverno, o Verão, a Primavera
e sobretudo o Outono perfeito, tão imóvel.
E o miósporo e a ameixoeira
não só te dão as imagens da Imagem
como te lançam as pétalas soltas
para que o arquétipo tombe sobre a imagem.
E não apenas do reino vegetal as figuras
visitam o teu espelho, ó tanque antigo,
como os peixes, as aves e os insectos
passam, no inteiro tempo em que tu guardas
os sinais do passado e do presente.
Tanta coisa passou sem me lembrar
que passamos, só esta água
parada no seu círculo e a escorrer
tem uma força móvel e imóvel
que me puxa de idade para idade.
Continuamente jorra, e sai pela caleira
rasa ao chão, espalhada nos terrenos.
E o tempo vai-se gastando como a água
que nunca tem em si o mesmo espelho
para as imagens vindas e perdidas.
...
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