Jorge de Sena

Jorge de Sena Poems

Pergunto-me a mim mesmo - tão curioso
como a criança a ser-se adolescente
que mal se entende em como os corpos agem -
a que diversos jogos ou não-jogos
se dão intimidade estes que vejo
inteiramente nus no areal da praia
entre uma escarpa que os esconde e o mar
que tudo aceita em ondas sucessivas.
Deitados no saber de ao sol queimarem
o mais oculto de si mesmos são
dois jovens e uma jovem misturados.
Um dos rapazes se recosta contra o corpo
do outro rapaz que alonga dorso e pernas,
enquanto neste se debruça e dobra,
pendendo os frescos seios e os cabelos,
o corpo feminino associado aos de ambos.
Mas nada indica excitação nos machos
de quem se pousa o sexo ou distendido pende
em de sereno indiferente como
a só vazia ausência de mistério
que a corpos dava um fervor quente e humano.
São, como deuses, animais sem cio?
Ou são, como animais, humanos que se aceitam?
Ela é de quem? De um deles só, dos dois?
Um deles será dela mas também do outro?
Será cada um dos três dos outros dois?
Ambos os machos serão fêmeas do outro?
Ou só um deles? Qual dos dois? O que
sentado se recosta? O que deitado
aceita contra o seu o corpo recostado?
Os três são muito belos, e não só
daquela de escultura juvenil audácia
cifrada em curvas duras de suaves linhas,
mas igualmente da pureza límpida
que só em torno ao sexo se enegrece um pouco.
Quem se pergunta como eu me pergunto
confessa claramente que distância
existe entre o passado e este presente
assim deitado ao sol à beira de água
como estes três se deitam ou recostam
sem que sequer com as mãos os sexos toquem,
senão o de outrem, mesmo o de si mesmos.
...

I am questioning myself - as curious
as is the child becoming adolescent
who is no expert in how bodies work -
asking what various games or non-games
take place in the intimacy of these I see
totally nude on the sand of the shore
between a cliff that hides them and the sea
which accepts everything in wave on wave.
Lying there in the relish of sunburning
the most occult parts of themselves there are
two young men and a girl intermingled.
One of the youths lean back against the body
of the other youth who extends his back and legs
far enough to let bend and hang above them,
drooping its fresh breasts and head of hair,
the feminine body associate with their two.
But no sign of excitement in the males
whose sex reposes, rather droops distended
in indifferent serenity that seems
the mere void absence of the mystery
which gave bodies a fervor, hot and human.
Are they, like gods, animals without rut?
Or humans who accept themselves like animals?
Whose is she? One of them only? the two?
Will one of them be hers but also the other's?
Will each of the tree belong to the other two?
Will each male be the female of the other?
Or just one of them? Which of the two? The one who
sits and leans back? The one who lying down
accepts against his own the leaned-back body?
The three are very beautiful, and not only
with that audacity of the youth of sculpture
coded in hard curves of gentle lines,
but equally by the limpid purity
which only around the sex darkens a little.
Whoever questions himself as I now question
confesses clearly that there really is a
long way between the by-gone and this present
laid out so in the sun at water's edge
as these three are lying or leaning back
without, even with hands, touching the sex,
let alone of another, even their own.
...

O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera: este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...

Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.
...

The body does not wait. Neither for us
nor for love. This groping of hands,
researching with such reticence
the warm, silky aridness
that twitches from embarrassment
in movements quick and random;
this groping attended not by us
but by a thirst, a memory, whatever
we know about touching the bared
body that does not wait; this groping
that doesn't know, doesn't see, doesn't
dare to be afraid of feeling scared…

The body's so hasty! All is over and done
when one of us, or when love, has come.
...

Não sou daqueles cujos ossos se guardam,
nem sequer sou dos que os vindouros lamentam
não hajam sido guardados a tempo de ser ossos.

Igualmente não sou dos que serão estandartes
em lutas de sangue ou de palavras,
por uns odiados quanto me amem outros.

Não sou sequer dos que são voz de encanto,
ciciando na penumbra ao jovem solitário,
a beleza vaga que em seus sonhos houver.

Nem serei ao menos consolação dos tristes,
dos humilhados, dos que fervem raivas
de uma vida inteira pouco a pouco traída.

Não, não serei nada do que fica ou serve,
e morrerei, quando morrer, comigo.

Só muito a medo, a horas mortas, me lerá,
de todos e de si se disfarçando,
curioso, aquel' que aceita suspeitar
quanto mesmo a poesia ainda é disfarce da vida.
...

I'm not one of those whose bones are kept,
nor am I even one the future will lament
not having saved in time to still be bones.

Moreover I'm not one who'll be a standard
in contests of blood or even words,
by some hated as much as others may love me.

I'm not even one of those enchanting voices,
whispering to the lonely youth in shadows,
of some vague beauty that perchance is in his dreams.

Nor will I even be a consolation to the sad,
to the humiliated or those who boil with rage
at an entire life bit by bit betrayed.

No, I'll not be anything of what remains or is useful,
and I'll die, when I die, with me.

Only very timidly, in the empty hours, will he read me,
in disguise from everyone and from himse1f,
curious, that fellow who dares suspect
how truly poetry is still a disguise for life.
...

Esta cabeça evanescente e aguda,
tão doce no seu ar decapitado,
do Império portentoso nada tem:
nos seus olhos vazios não se cruzam línguas,
na sua boca as legiões não marcham,
na curva do nariz não há os povos
que foram massacrados e traídos.
É uma doçura que contempla a vida,
sabendo como, se possível, deve
ao pensamento dar certa loucura,
perdendo um pouco, e por instantes só,
a firme frieza da razão tranquila.
É uma virtude sonhadora: o escravo
que a possuía às horas da tristeza
de haver um corpo, a penetrou jamais
além de onde atingia; e quanto ao esposo,
se acaso a fecundou, não pensou nunca
em desviar sobre el' tão longo olhar.
Viveu, morreu, entre colunas, homens,
prados e rios, sombras e colheitas,
e teatros e vindimas, como deusa.
Apenas o não era: o vasto império
que os deuses todos tornou seus, não tinha
um rosto para os deuses. E os humanos,
para que os deuses fossem, emprestavam
o próprio rosto que perdiam. Esta
cabeça evanescente resistiu:
nem deusa nem mulher, apenas ciência
de que nada nos livra de nós mesmos.
...

This evanescent, acute head,
so sweet in her decapitated look,
reveals nothing of the portentous Empire:
no tongues meet in empty eyesockets,
no legions march in her mouth,
in the curved nose you will not find
people massacred and betrayed.
She contemplates life sweetly,
knowing how she must, if she can,
refuse thought with a little madness,
for a brief moment relinquishing
the firm tranquility of cool reason.
She is a dream of virtue: the slave
who owned her never, in those sad
moments of having a body, possessed her
beyond this reach. And her husband,
if indeed it was his seed in her, never
felt the weight of this long look
resting upon him. She lived and died
like a goddess among columns, men,
meadows and rivers, shadows and harvests,
theaters and winepresses. Yet
she was no goddess: the empire went on
ravenously swallowing all the gods
it had no face for, so humans,
to humanize the gods, lent
their own which now are lost.
This evanescent head survived:
neither goddess nor woman, only knowledge
that nothing can save us from ourselves.
...

Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
...

You can steal all that's mine:
my ideas, words, images,
my metaphors, themes, motifs,
my symbols and preeminence
in suffering the pains of a new language,
in understanding others, in daring
to fight, to judge, to penetrate
recesses of love where you are impotent.
And then you can refuse to quote me,
you can suppress me, ignore me, and even
acclaim other thieves, luckier than you.
It doesn't matter: your punishment
will be grim. For when your grandchildren
no longer know who you are
they'll know me much better
than you pretend not to,
and all that you have painstakingly pillaged
will revert to my name. Even what little
you did not steal but achieved on your own
will be mine, counted as mine, credited to me.
You'll have nothing at all, not even your bones,
for they'll dig up one of your skeletons
ans say it's mine. So that other thieves, just
like you, can kneel and place flowers on my tomb.
...

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse "com suma piedade e sem efusão de sangue."
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam "amanhã".
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
...

I don't know, children, what world will be yours.
It's possible (everything's possible) that it will be
the world I wish for you. A simple world,
in which the only difficulty will come
from there being nothing that's not simple and natural.
A world in which everything will be allowed,
according to your fancy, your yearning, your pleasure,
your respect for others and their respect for you.
It's also possible that it won't be this, and that this
won't even be what you want in life. Everything's possible,
even though we fight, as we must fight,
on behalf of our idea of freedom and justice
and - still more important - in steadfast
allegiance to the honour of being alive.
One day you will realize what a vast multitude,
as countless as humanity, felt this way,
loving others for whatever they had that was unique,
unusual, free, different,
and they were sacrificed, tortured, beaten
and hypocritically handed over to secular justice,
to be liquidated "with sovereign pity and without bloodshed".
For being loyal to a god, to a conviction,
to a country, to a hope, or merely
to the irrefutable hunger that gnawed them from within,
they were gutted, flayed, burned, gassed,
and their bodies heaped up as anonymously as they had lived,
or their ashes scattered so that no memory of them remained.
Sometimes, for belonging to a certain race
or class, they atoned for all the wrongs
they had not committed or had no awareness
of having committed. But it also happened
and happens that they were not killed.
There have always been infinite methods for dominating,
annihilating quietly, gently,
through ways inscrutable, as they say of God's ways.
These executions, this heroism, this horror,
was one episode, among thousands, that happened in Spain
over a century ago and whose violence and injustice
shocked the heart of a painter named Goya,
who had a very large heart, full of rage
and love. But this is nothing, children,
just one event, a brief event,
in this chain of which you are (or aren't) a link
of iron and sweat and blood and a bit of semen
on the way to the world I dream for you.
Believe me that no world, that nothing and nobody
is worth more than a life or the joy of having life.
It is this joy that matters most.
Believe me that the dignity you'll hear so much about
is nothing but this joy that comes
from being alive and knowing that no one has ever
been less alive or suffered or died
so that just one of you could stave off a little longer
the death that belongs to all of us and will come.
That you will know all of this with peace of mind,
with rancour toward no one, without fear, without ambition,
and above all without apathy or indifference
is my ardent hope. So much blood,
so much pain, so much anguish, must one day prove
- even if the tedium of a happy world torments you ­-
not to have been in vain. I confess that
very often, thinking about the horror of so many centuries
of oppression and cruelty, I have a moment of hesitation
in which an overwhelming bitterness makes me despair.
Are they or aren't they in vain? And even if they aren't,
who will resurrect those millions, who will restore
not only their lives but all that was taken from them?
No Final Judgement, children, can give them
that moment they did not live, that object
they did not freely enjoy, that gesture
of love they were going to make ‘tomorrow'.
And so the same world we create urges us
to treat it with care, as something that isn't
just ours but has been entrusted to us
that we might respectfully watch over it
in memory of the blood that flows in our veins,
and of the flesh we've inherited, and of the love that
others did not love because it was taken from them.
...

Quase sessenta mazurcas; cerca de trinta estudos;
duas dúzias de prelúdios; uma vintena de nocturnos;
umas quinze valsas; mais de uma dúzia de "polonaises";
"scherzos", improvisos, e baladas, quatro de cada;
três sonatas para piano; e dois concertos para piano e orquestra,
uma "berceuse", uma barcarola, uma fantasia, uma tarantela, etc.,
além de umas dezassete canções para canto e piano; uma tuberculose mortal;
um talento de concertista; muitos sucessos mundanos; uma paixão infeliz;
uma ligação célebre com mulher ilustre; outras ligações sortidas;
uma pátria sem fronteiras seguras nem independência concreta;
a Europa francesa do Romantismo; várias amizades com homens eminentes;
e apenas trinta e nove anos de vida. Outros viveram menos, escreveram mais,
comeram mais amargo o classicamente amargo pão do exílio, foram ignorados
ou combatidos, morreram abandonados, não se passearam nas alcovas
ou nos salões da glória, confinaram-se menos ao instrumento que melhor dominavam,
e mesmo foram mais apátridas sofrendo de uma pátria que não haja.
Além disso, quase todos escaparam mais à possibilidade repelente
de ser melodia das virgens, ritmo dos castrados,
requebro de meia-tijela, nostalgia dos analfabetos,
e outras coisas medíocres e mesquinhas da vulgaridade, como ele não. Ou de ser
prato de não-resistência para os concertistas que tocam para as pessoas que julgam
que gostam de música mas não gostam. Ainda por cima
era um arrivista, um pedante convencido da aristocracia que não tinha,
um reaccionário ansiando por revoluções que libertassem as oligarquias
da Polónia, coitadinhas, e outras. E, para cúmulo,
a gente começa a desconfiar de que não era sequer um romântico,
pelo menos da maneira que ele fingiu ser e deixou entender que era.
Uma arte de compor a música como quem escreve um poema,
a força que se disfarça em languidez, um ar de inspiração
ocultando a estrutura, uma melancolia harmónica por sobre
a ironia melódica (ou o contrário), a magia dos ritmos
usada para esconder o pensamento - e escondê-lo tanto,
que ainda passa por burro de génio este homem que tinha o pensamento nos dedos,
e cuja audácia usava a máscara do sentimento ou das formas livres
para criar-se a si mesmo. Tão hábil na sua cozinha, que pode servir-se
morno, às horas da saudade e da amargura,
quente, nas grandes ocasiões da vida triunfal,
e frio, quando só a música dirá o desespero vácuo
de ser-se piano e nada mais no mundo.
...

The Best Poem Of Jorge de Sena

SOBRE ESTA PRAIA... OITO MEDITAÇÕES À BEIRA DO PACÍFICO/II

Pergunto-me a mim mesmo - tão curioso
como a criança a ser-se adolescente
que mal se entende em como os corpos agem -
a que diversos jogos ou não-jogos
se dão intimidade estes que vejo
inteiramente nus no areal da praia
entre uma escarpa que os esconde e o mar
que tudo aceita em ondas sucessivas.
Deitados no saber de ao sol queimarem
o mais oculto de si mesmos são
dois jovens e uma jovem misturados.
Um dos rapazes se recosta contra o corpo
do outro rapaz que alonga dorso e pernas,
enquanto neste se debruça e dobra,
pendendo os frescos seios e os cabelos,
o corpo feminino associado aos de ambos.
Mas nada indica excitação nos machos
de quem se pousa o sexo ou distendido pende
em de sereno indiferente como
a só vazia ausência de mistério
que a corpos dava um fervor quente e humano.
São, como deuses, animais sem cio?
Ou são, como animais, humanos que se aceitam?
Ela é de quem? De um deles só, dos dois?
Um deles será dela mas também do outro?
Será cada um dos três dos outros dois?
Ambos os machos serão fêmeas do outro?
Ou só um deles? Qual dos dois? O que
sentado se recosta? O que deitado
aceita contra o seu o corpo recostado?
Os três são muito belos, e não só
daquela de escultura juvenil audácia
cifrada em curvas duras de suaves linhas,
mas igualmente da pureza límpida
que só em torno ao sexo se enegrece um pouco.
Quem se pergunta como eu me pergunto
confessa claramente que distância
existe entre o passado e este presente
assim deitado ao sol à beira de água
como estes três se deitam ou recostam
sem que sequer com as mãos os sexos toquem,
senão o de outrem, mesmo o de si mesmos.

Jorge de Sena Comments

Jorge de Sena Popularity

Jorge de Sena Popularity

Close
Error Success