Márcio- André

Márcio- André Poems

1.

open the mineral so clear of facets
the prism fruit exact like angles multiple
stone as bone as water on its sides
...

moon-blade-shoulder blade
the porcelain dog shattered over the porcelain of the constellation

or this heavy water in the light clots
...

the defibrillator is a verbal relic
rather than a skeleton's device

time in the word

all that came first moved inside the word
even the cardiac pump and its blood vessels

it's in it that things awake
and then the language-that-doesn't-say
silence
grants to each world its physics

the body stands further than around the spine
the body grants a place to each star that earns a name

[the seagull keeps the sea in its body]

to chew the word
as if chewing a heart
from the valve to the auricles

each word is a shrine
a destiny
a design
...

we need the air's intimacy
in order to bear the force of gravity -

in the jump : the inside cut of words
...

the day rises in golden fury
and before it
antennae plot revolutions
with their antennae's mind
...

here from the belly of this whale
the city is a glittering shoal
and
drummond's statue has its back to the ocean -
...

: her voice throughout the sea is the sea crossing itself

remote call
from the woman perched on the rocks
...

from the entire garden i choose
the rayed cornea of your flower

or the rayed flower between your legs
...

this a temple
just as my present lover's
chain of teeth is a temple
...

in the labyrinth-seed
the water invades the plastic grooves
to burst through them with its atomic bomb energy:
...

knife in the water
slicing the water

water house
...

a salmon pierces the afternoon with a fish quietude
metal-light the flame

phlox or the fluorine of a thousand flowers -
...

um salmão penetra a tarde em quietude de peixe
metaleve o lume

phlox ou o flúor de mil flores -

da janela a fábrica estacionada como um trem

falha única no coração do homem
ou o negativo de um homem

e a raça natimorta das roupas nos varais

para ordenar os livros é preciso desarrumar a cidade
e todas as coisas que não têm deus

as pipas no fim da tarde ancoram as casas no céu
e compreendemos:
buracos negros são rebarbas de universo
...

14.

abrir o mineral tão claro dos rostos
A fractal fruta exata em ângulos sonhados
pedra tão vértebra quanto água nos vértices
Por flor adentro corte de espelhos decepando
tanto quanto jóia dado assente sorte alguma
Tão sua que ao esmalte faz-se outra
avessa falha desfolha gume florindo única face
...

lua-lâmina-omoplata
o cão de porcelana desfeito na porcelana da constelação

ou esta água pesada nos coágulos da luz

ali onde da matéria mole do sol
se forjam estrelas

cheguei a idade que um dia sonhei ter
mas o sonho não resistiu a idade

aqui nesta terra-longe
antecidade ante tudo o que foi feito
[há lugares que esquecem de se atualizar segundo os mapas]

os imortais cunharam homens
para ver um mundo por seus olhos
mas a vida inteira temos esperado por algo
no outro lado da vida inteira

das realidades possíveis só percebemos esta
onde todos já vêm com encaixe para alguma máquina

sistemas são subversíveis -

subvertamos agora os astros que não pertencem a nós
[a língua:
astrolábio de céu da boca]
...

o desfibrilador é antes uma relíquia verbal
que um aparato do esqueleto

o tempo na palavra

tudo que era primeiro moveu-se no verbo
mesmo a bomba cardíaca e seus vasos sanguíneos

é nele que as coisas despertam
e então a língua-que-não-diz
o silêncio
confere a física de cada mundo

o corpo está mais que em volta da espinha
o corpo fabrica um lugar a cada estrela que ganha nome

[ o albatroz retém a alba no corpo ]

mastigar a palavra
como se mastiga um coração
da válvula às aurículas

cada palavra é um sacrário
um desígnio
um destino
...

é preciso ser confidente do ar
para suportar a força da gravidade -

no salto : o corte interno das palavras

azul : esta atmosfera : azul

caiando a casca das frutas mais novas
ou diante da porta
à espera
que a manhã seja outra

pois o sentido da coisa já não acomoda a coisa
e pesa menos livre de seus sentidos

e a poesia só escreve o que a pontuação permite

fruta fendida na idéia do vento

quando todos despertam a cidade sonha
estrangeira de si mesma e do tempo -
...

por um animal
todo-feito de tetra-pak
que se devora enquanto se move

esse animal-caligrama
que transpassa o alfabeto através do corpo

e a imundície da rua através do tempo

usina de merda contra
as mil falhas tectônicas do céu

placas de entulho articuladas por dentro
o rinoceronte em seu ladrilho

e mesmo a morte faz mais sentido quando fodemos
usina de força gerando forças contrárias

ou ainda
esse ordinário que vive das coisas complexas :

o dia a dia alternando suave
os terrenos baldios a ordem das casas os vagões de trem
...

o dia surge com a fúria do ouro
e ante ele
antenas conspiram a revolução
no seu entendimento de antenas

nascer e morrer já não é grande coisa -
sobra aguardar dos ligamentos o câncer
no tempo do tempo que resta

esta música de pedra:
esse eu
que habita um corpo
é menos que corpo

e recusa a ser feliz nesta cidade
e envelhece sem jamais ter sido jovem

ainda que as antenas sustentem elegâncias de inseto
contra a tarde

cardume metálico
no encardido das lajes
...

aqui do estômago desta baleia
a cidade é um cardume cintilante
e
a estátua de drummond tem as costas ao oceano -
[as estátuas são para os homens não para o mar]

cultivar um peixe por dentro
para um dia comê-lo

esperando uma mulher surgir da precisão da ossada

um dia somos felizes em nosso jardim cetáceo
e ela caminha suavemente ao meu lado
sonhando o domingo mais triste do mundo no subúrbio do lado de lá

um dia estamos na meia idade e bebemos porque não há opção

e o guindaste no cais estará esmagado como um inseto morto
diante das mil falhas na goela das águas

o mar está na foto dos homens não no sonho das estátuas
...

Márcio- André Biography

Márcio-André became the first radioactive poet in the world in 2007, when he gave a poetry performance that lasted for hours in the still dangerously radioactive ghost town of Chernobyl. He made a name for himself as a translator, an anthologist and the joint founder and editor of the publishing house Confraria do Vento and the legendary Brazilian webzine for poetry and culture, Confraria (March 2005–February 2009). Since 2009, he has lived in Lisbon, and in 2010 and 2011 he was the organiser and presenter of Cidade aTravessa, a series of literary multimedia events in Rio de Janeiro, São Paulo and Lisbon. He makes appearances as a poet and as a sound and image artist at festivals, exhibitions and site-specific events in many countries, employing different media such as video art, installations, performances and visual and sound poetry. All these activities are inseparable from his experimental approach to poetry, which he treats as a dynamic multimedia process that only genuinely comes alive in performance.)

The Best Poem Of Márcio- André

GEM

open the mineral so clear of facets
the prism fruit exact like angles multiple
stone as bone as water on its sides
pet flower is cut like mirrors shattered
always as gem die
solid random chance
so its own becomes enamel born unique
double-sided fault shedding edge crowning another face

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