Se teu corpo estremecer, bem-vinda seja à minha morte
A fossa fúnebre dos que te repelem, no canal,
Faz companhia àqueles que fingiram te amar
Sentados quando precisaste, e, de pé, para agraciar a tua desgraça
...
Uma palavra pode ser proferida
E esquecida com o tempo
Outra pode ser aquecida e sentida
Além da eternidade
...
Ir tão cedo
E ainda logo
Ressurgir
Na lembrança agridoce
...
A avenida é paulista
Mas os pedestres
São de todos os lugares
Cruzam-se, debatem-se e ignoram-se
...
Ao deixar-me, ainda em chamas
A tua presença não me abandona
E as palavras que proferes, agora saem de mim
Derivam todas da mesma harmoniosa fonte
...
Vitimado, constrangido, monitorado
Humilhado, oprimido, controlado
Vigiado, atacado, manipulado
Seduzido, induzido, conduzido
...
O amor não fez sentido
Nesse mundo mesquinho e sem graça
Talvez porque seja ele a presa e não o predador
Não vale um latão
...
Alguns dos meus amigos venderam
Palmas ao diabo, e tocavam-lhe a face
Alternando carinho e desprezo
Vertendo lágrimas de cor anil
...
À mesa, refeições e olhares
Cada um com o seu
E cada seu com o meu
Não havia privacidade
...
Passei as últimas três noites
Vagando em ambientes estranhos
E conversando com pessoas impossíveis
As quais sei que jamais reencontrá-las-ei
...
No campo de batalha
As mentiras possuem verdades de ferro
E as camisas de força estão atadas aos libertários
Helicópteros que sobrevoam em intensidade
...
O que tenta dizer-me esse olhar
Profundamente misterioso
Que se esconde por detrás
Dessa placa de gelo e vidro
...
Escondo-me abaixo do inferno
E acima do paraíso
Para que não me incomodem
Nem bons, nem maus
...
Sou o pó da raiz triturada pela sede,
Saturada pelo sol e nutrida pelo esterco
Falo grave neste chão árido e severo
Ao qual lanço o meu olhar
...
Os dentes da moça ansiosamente rangiam
Como as desarrumadas camas que abrigam lúbricos amantes
E acobertam as paixões recônditas dos indecisos furacões
Que sussurram em tons pastéis e revelam sem reverências
...
A vida não é o contrário da morte
Mas sim o seu meio
A morte não é o contrário da vida
Mas sim o seu cume
...
Bernardo Almeida nasceu em Salvador (BA) , no ano de 1981. Passou a infância em Recife, mudando-se para São Paulo na década de 1990. Em 2001, retornou à cidade natal, onde vive até o momento. É poeta, fotógrafo digital [desenvolve imagens artísticas sob o conceito da hibridez], escritor de contos, roteiros e tiras, compositor e livre pensador. Mantém o site www.bernardoalmeida.jor.br, no qual expõe poesias, reflexões e imagens híbridas. Tem poesias traduzidas e publicadas na França e Croácia.)
Morphine
A pen is a dead chest
But in the hands of a poet
Bleed more feelings
Than a thousand human hearts